Empresas de todos os setores têm buscado maneiras de fomentar a cultura de inovação como um diferencial competitivo. Nesse contexto, muitas organizações acreditam que atrelar metas financeiras a iniciativas de inovação pode ajudar a garantir que os investimentos tragam retorno.
Embora o alinhamento entre resultados financeiros e inovação seja fundamental para a sustentabilidade do negócio, atrelar de maneira excessiva ou direta as metas financeiras à inovação pode ser contraproducente e comprometer o desenvolvimento de uma cultura de experimentação.
É óbvio que as empresas precisam ser sustentáveis. A saber, conforme descrito na Wikipedia, “para que um empreendimento humano seja considerado sustentável, é preciso que ele seja ecologicamente correto, economicamente viável, socialmente justo e culturalmente diverso”.
E para auxiliar no item “economicamente viável”, uma cultura de inovação e experimentação é necessária.
Veja alguns dos motivos para equilibrar as metas financeiras e a inovação, em busca de garantir a perenidade das empresas.
A inovação, por sua natureza, envolve incertezas, experimentação e tentativa e erro. A maioria das grandes inovações surge de processos que envolvem hipóteses iniciais, protótipos e iterações constantes.
A pressão por alcançar resultados financeiros de curto prazo pode inibir essa experimentação, uma vez que os funcionários podem ficar menos dispostos a correr riscos que, em muitos casos, são essenciais para se encontrar soluções verdadeiramente disruptivas.
Ao atrelar metas financeiras imediatas à inovação, cria-se um ambiente em que o erro é punido ou inaceitável, o que pode sufocar a criatividade.
Funcionários podem se sentir pressionados a seguir caminhos seguros e já conhecidos, ao invés de testar abordagens novas e ousadas.
Como resultado, as iniciativas podem acabar sendo incrementais e limitadas ao invés de transformacionais, prejudicando o desenvolvimento de uma verdadeira cultura de inovação.
Talvez a principal barreira da cultura de inovação seja o fato de os executivos não conseguirem reservar tempo em suas agendas para pensar no médio e longo prazo, priorizando projetos com resultados imediatos e, em sua grande maioria, de eficiência.
Um dos principais desafios ao vincular metas financeiras à inovação é o foco no curto prazo. Muitas vezes, a inovação exige um horizonte mais longo para amadurecer e gerar retorno.
Produtos, serviços ou modelos de negócios inovadores nem sempre são bem-sucedidos ou rentáveis logo de início.
O Google, por exemplo, experimentou uma série de projetos falhos antes de lançar produtos revolucionários, como o Google Search ou o Android.
Essa resiliência foi possível porque a empresa reconhece que algumas ideias precisam de tempo para amadurecer.
Ao colocar metas financeiras de curto prazo como um dos principais critérios de sucesso para projetos de inovação, cria-se uma tensão entre o que é financeiramente viável agora e o que poderia ser inovador no futuro.
Inovações disruptivas frequentemente começam pequenas e podem parecer financeiramente inviáveis em suas fases iniciais.
A busca por resultados imediatos, no entanto, pode levar à interrupção de projetos com alto potencial antes que eles tenham a chance de alcançar esse ponto de inflexão.
A inovação prospera em ambientes onde as pessoas se sentem seguras para falhar (lógico que falhar pequeno, em ciclos curtos, como amplamente praticado em uma cultura de Agilidade Organizacional).
No entanto, quando metas financeiras se tornam o principal indicador de sucesso, os funcionários podem adotar uma postura avessa ao risco: ninguém quer ser o responsável por um fracasso que impacte diretamente o resultado da empresa.
Isso cria uma cultura de medo, onde o foco passa a ser evitar erros ao invés de buscar novas soluções. Inovações genuínas exigem coragem para explorar o desconhecido, e essa coragem é sufocada quando o fracasso é visto como um custo inaceitável.
Como consequência, a empresa pode se tornar reativa e conservadora, perdendo a oportunidade de liderar em vez de seguir as tendências do mercado.
Na cultura da inovação, o erro deve ser visto como uma parte do processo de aprendizado. Thomas Edison falhou milhares de vezes antes de inventar a lâmpada elétrica, e ele costumava dizer que cada erro o aproximava mais da solução correta.
Se as metas financeiras forem o principal critério de sucesso, cada erro será visto como um desperdício de recursos, e os experimentos serão evitados.
Por outro lado, se o erro for compreendido como um passo no caminho para o sucesso, as equipes se sentirão mais confortáveis para explorar soluções criativas.
Empresas que valorizam a experimentação permitem que seus funcionários façam perguntas sem medo e busquem respostas, mesmo que as primeiras tentativas falhem.
Atrelar metas financeiras rígidas a processos de inovação é como pedir que uma planta cresça sem água. Inovação requer liberdade: liberdade para testar novas ideias, para errar e aprender, e para desenvolver soluções que ainda não estão mapeadas.
Quando a liberdade criativa é restringida por expectativas financeiras imediatas, o potencial de inovação é diminuído.
Na década de 1990, a GM lançou o EV1, um dos primeiros carros elétricos modernos disponíveis para o público.
O EV1 era altamente inovador, com um design aerodinâmico e autonomia competitiva para a época. Ele gerou interesse entre os consumidores preocupados com o meio ambiente e com o futuro da mobilidade.
No entanto, a GM decidiu encerrar o projeto poucos anos após o lançamento. Uma das principais razões foi que o modelo de negócios em torno dos carros a combustão interna, especialmente os SUVs, era muito mais lucrativo a curto prazo.
Dessa forma, as SUVs tinham margens de lucro altas e eram extremamente populares no mercado norte-americano. O desenvolvimento e a comercialização de carros elétricos como o EV1 representariam um custo elevado e, na visão da GM, poderiam comprometer as receitas imediatas geradas pelos veículos tradicionais.
Preocupada com métricas financeiras de curto prazo, como o retorno sobre o investimento em seus veículos mais vendidos, a GM preferiu não continuar investindo na tecnologia de carros elétricos.
Assim, a empresa até recolheu e destruiu muitos dos EV1 que estavam em circulação. Isso abriu espaço para que, mais tarde, outras empresas como a Tesla liderassem o mercado de veículos elétricos, enquanto a GM ficou para trás e teve que correr para recuperar terreno nesse segmento anos depois.
Essa decisão é considerada uma oportunidade perdida pela GM de ter liderado a transição para a mobilidade elétrica.
Isso não significa que as metas financeiras não devem fazer parte da equação. Pelo contrário, elas são necessárias para garantir que as inovações estejam alinhadas aos objetivos da empresa. No entanto, o desafio é equilibrar a busca por resultados financeiros com a necessidade de dar espaço para a experimentação.
Algumas sugestões para isso incluem:
Assim, atrelar metas financeiras à inovação de forma desproporcional pode comprometer a criatividade, experimentação e a cultura de inovação nas empresas.
Embora o retorno financeiro seja, obviamente, importante e fundamental para a perenidade das empresas, o foco exclusivo em resultados imediatos pode sufocar o verdadeiro potencial das iniciativas inovadoras.
Empresas que conseguem equilibrar resultados financeiros com a liberdade para testar e aprender, criam as condições ideais para uma inovação sustentável e disruptiva no longo prazo.